Uma verdade Nua e Crua

Já faz algum tempo que não escrevo aqui. Acredito que escrevo para mim mesmo neste local. Mas há momentos que preciso escrever para mim como se estivesse falando em frente a um espelho, não me preparando para falar para um grande público, mas colocando tudo para fora para organizar meus pensamentos e sabendo que na sociedade contemporânea alguns assuntos estão se tornando esquecidos e não ditos porque a verdade não é boa.

Quero falar de papeis. Papeis que foram invertidos, trocados, deturpados, queimados, amassados.

Quando houve a inversão, ou melhor, a retirada do papel dos pais e colocada sobre o professor, transformando este em educador, as bases começaram a ruir.

Transformar o professor em educador foi a forma que a sociedade fez de terceirizar os trabalhos dos pais que não mais querem fazer a difícil tarefa de educar seus filhos. Ensinar valores é um trabalho árduo, pois implica em não renunciar seu filho em nenhum momento, em não ser preconceituoso, em tem um caráter forte, ter uma postura ética-política correta, não ser corruptível.

Atualmente, o que vemos são pais que não colocam limites a seus filhos, pois também perderam o norte de valores. Quando uma criança de cinco ou seis anos desafia os seus pais e ele se coloca em uma posição de defensiva e não sabe o que fazer. Acabou de perder o seu filho. Terminou de gerar em seu filho um brio quase impossível de se reverter.

Como professor atuante tanto no ensino público quanto no privado do Estado de São Paulo, o quê mais observo em meus alunos são suas faltas de norte moral. Não saber distinguir o certo do errado segundo o convívio social na qual pertencem. Se um aluno chegasse na quinta, sexta ou mesmo no primeiro colegial com déficit de conteúdo, isso seria fácil sanar, pois um professor está ali para ensiná-lo e não para educá-lo. Já imaginaram se um médico tivesse que ensinar o paciente a como fazer o remédio ao invés de penas indicar a ele qual deve tomar e onde encontrar? Este médico deixaria de ser médico, seria qualquer coisa menos médico.

Se uma criança ou adolescente viesse para escola tendo noções de respeito mútuo, que o professor é a autoridade (por ser mais velho e por ter estudado e muito, mas muito mais que ele sobre aquele assunto) e que o aluno está naquele local que ainda chamamos de escola para aprender assuntos que são velhos neste mundo mas extremamente importantes para ele conseguir desenvolver algo de novo no futuro, tudo seria mais tranqüilo. Entretanto, o professor hoje é qualquer coisa, menos professor. Cunharam, então, a expressão educador para tentar dar conta de algo que jamais poderia ter acontecido. Terceirizado a educação das crianças.

Também, com a inversão destes papéis o professor perdeu o seu prestígio e o seu reconhecimento. A sociedade colocou esta profissão no lixo. Uma estatística é bem simples de se fazer: veja quantos jovens querem ser professores atualmente. Constatará que serão poucos. Por que? Simples, se você for um mecânico ganhará no mínimo R$ 50,00 por hora de serviço. Não estou aqui menosprezando esta profissão, pelo contrário, eles têm que ganhar muito mais que isso. O absurdo é o professor ganhar muito, mas muito menos que isso por hora de trabalho. Pois onde está a diferença? Eu digo, um mecânico trabalha com máquinas e nós trabalhamos como pessoas. Mas isso é simples de se resolver, qualquer objeto tem muito mais valor, hoje, que um ser humano.